segunda-feira, 11 de abril de 2016

ABRAÇANDO O PARANÁ-Relatório Semanal - Curiuva/PR

Olá. Sou o Edgard Assumpção, ator da Cia. do Abração e estou no espetáculo Estórias Brincantes de Muitas Mainhas, apresentando em cidades do interior do Paraná. Muito bem, escrevo para registrar os momentos deste projeto lindo, indispensável para a aproximação do artista com o seu público, principalmente quando este público não sabe o que é ser um espectador.

Então, fomos para a primeira cidade: Curiúva, há aproximadamente 4 horas de Curitiba. Chegamos, nos acomodamos e descansamos para o dia que veio em seguida. 

O Sol nos acordou, uma linda paisagem da janela do hotel me encheu de energia para começar a nossa jornada: montanhas, cavalos, galinhas e ele, o Sol surgiu lá das colunas da colina. Seguimos para o espaço onde apresentamos, um salão bem grande onde provavelmente realizam eventos e festas na cidade. A montagem foi rápida e com alguns entraves, comuns, mas que causaram um certo nervosismo. 
Chegou o público, muitas, muitas crianças de escolas públicas da cidade, vinham todas, muito ansiosas e com tanta energia que lá do camarim nós três, os atores do espetáculo, nos preparávamos para encarar não apenas a plateia, mas as dificuldades técnicas do espaço, o qual ecoava demais e dificultava escutar qualquer coisa.
As meninas da nossa equipe, Kamila Ferrazzi e Juliana Cordeiro fizeram um lindo papel ao preparar as crianças para receber aquela obra de arte que chegava com muito amor.
No entanto, ao iniciar o espetáculo, se confirma uma triste realidade que não imaginávamos encarar. As crianças batem palma, dão risadas, se manifestam, ok, elas sentem e precisam expressar suas emoções. Mas de fato, poucas crianças conseguiram se conectar com o espetáculo e isso dificultou a realização  do mesmo, pois, logo nos 20 minutos de peça, houve um murmúrio, crianças conversando, brincavam pelos cantos e as professoras... essas filmavam todo o espetáculo em seus aparelhos super tecnológicos registradores da "realidade". 
Enfim, a apresentação da manhã foi marcada pela falta de atenção do público.
Nós não desistimos.
A segunda apresentação ocorreu a tarde, na qual decidimos mudar a disposição do espaço, saímos do palco e levamos o cenário para o chão do salão, mais próximos das crianças.
Kamila e Juliana, novamente alcançaram o coração das crianças, pela primeira vez ouvimos lá do camarim, o som do silêncio com o espaço preenchido pelo público. Esse fenômeno se deu devido as habilidades de arte-educadoras destas aguerridas artistas. 
Neste momento estávamos mais calmos, poderia ser uma vitória apresentar para aquele público com toda a atenção necessária para transmitir e trocar energia.
Mas...
Novamente, inicia o espetáculo, palmas, risadas (a música inicial e a entrada dos personagens provoca alguns risos e uma empolgação mesmo), e até os 10 minutos de espetáculo percebemos uma entrega, todos os olhares estavam voltadas para nós, alguns bem particulares que serão lembrados ao final deste registro. Não fosse por acaso do destino, a lei de Murphy e todos os fenômenos da sorte, uma professora simplesmente retirou sua turma do espaço, todos eles levantaram e saíram. Juliana que registrou toda a primeira etapa em foto e vídeo foi até ela e disse que aquilo não poderia ser feito e que estávamos sendo desrespeitados, além de ter atrapalhado toda a concentração arduamente conseguida. A professora simplesmente respondeu que seus alunos não conseguiam enxergar e por isso os retirou dali, e lá ficaram, todos olhando a paisagem pela janela.

Parecia que aquele silêncio do início era uma grande expectativa para um grande truque.

Cortamos tempos, textos, entre-cenas do espetáculo, para polpar e manter a integridade da equipe, qualidade do nosso trabalho e por respeito as crianças que estavam atentas e conectadas conosco.

Foi um desespero, senti vontade de fugir, até por que muito provavelmente muitas das crianças não perceberiam que um dos atores saiu de cena rsrsrs. Nessa hora olhei para a Kamila, João, Karin, Isabelle e Juliana, e novamente não desisti. Não somos um agrupamento de pessoas, somos guerreiros da arte, gregos, lutadores. Por uma causa maior não desistimos, mas, resistimos com honra e integridade!

Enfim, este dia foi marcado por algumas chateações, as quais efetivaram-se por entendermos que as pessoas perderam ou não adquiriram a capacidade de se conectarem umas às outras, bem como a apreciação da arte, o entendimento sensorial e lógico de uma linguagem artística, mesmo que não se saiba definir conceitualmente referências e o caralho a 4.
De um modo geral, perdeu-se a união. Mas ela aparece, e quando aparece, a resistência da qual falei anteriormente, se torna um galho no meio da enchente, aquele que você agarra e não solta.
Falo sobre duas lindas crianças, uma chamava-se Ana Clara, um anjo que sentou bem na primeira fila e esteve atenta do início ao fim, ela se desligou daquele ambiente e se conectou com a arte e no final deu um abraço espontâneo em mim, Karin e João. A outra menina não sei o nome nem nada, mas ela tinha alguma doença que não pesquisei nada a respeito também, mas visivelmente aparentava uma síndrome, enfim, fisicamente ela tinha traços de uma formação diferente. E a menina esteve atenta do início ao fim, tímida e muito curiosa ao mesmo tempo, uma energia pura que me acalmou.


O teatro faz isso com a gente. Modifica lá dentro do coração, mesmo que você não sabia dizer o que, mas você sabe sentir. O amor que eu sinto por tudo isso é maior que qualquer sonho, mas este amor é testado a cada instante e se nossas raízes não estiverem definidas, podemos não ser um galho forte da enchente e sim um graveto quebrado que se esfarela aos poucos e segue a força do rio...

Em outras palavras, estas apresentações se confirmam que como artista, temos uma missão de levar a arte para os cantinhos da nossa casa, assim como o espetáculo fala "- A casa é mãe". Devemos cuidar da nossa casa, seja o planeta, seja nossos corações e além disso, levar cada vez mais este trabalho para os locais onde não se tem o hábito de ir ao teatro, não se treina a sensibilidade...

Este foi só o primeiro dia, quero fazer um relatório de cada cidade, pois esses dias merecem ser registrados.

Enfim, viva a vida, viva o teatro e sigamos na estrada para ABRAÇAR cada canto do nosso PARANÁ.
Foto do caminho para Curiúva - PR



ABRAÇÃO!!!

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